terça-feira, 20 de setembro de 2016

A DESCOBERTA DO NEURÔNIO-ESPELHO



A
UNIVERSIDADE DE PARMA - Em 13 de março de 962, o Imperador Ottomian I conferiu a Uberto, o bispo de Parma, o início da Universidade no 'Diploma' - um documento que concedeu ao bispo o poder de ordenar e eleger líderes legais. Este documento foi a base da criação de uma instituição de ensino que duraria séculos mais tarde, e inda está preservada nos arquivos do Bispo de Parma hoje.


No início do verão de 1991, no interior das velhas pedras que fazem parte das paredes  da Universidade de Parma, um assistente de laboratório voltava do seu intervalo de almoço, tomando um sorvete de casquinha. Ao adentrar nas dependências do laboratório encontrou um velho conhecido, o macaco Rhesus, membro integrante do grupo de pesquisas do cientista de renome internacional, Giancomo Rizzolatti. Este macaco estava com um eletrodo em seu cérebro, sendo fruto de um estudo relacionado ao planejamento e execução de movimentos em símios.
Ao observar o assistente de laboratório tomando o sorvete, o macaco que estava com um eletrodo em seu córtex cerebral, demonstrou interesse imediato. “Quando o assistente levou o sorvete à boca, a atividade elétrica cerebral do macaco se alterou. Na realidade, este macaco estava degustando mentalmente o sorvete, inclusive com todos os movimentos físicos necessários para a realização da ação. Junto com o assistente, o cérebro do macaco enviava sinais para o seu braço erguer o sorvete até a boca, salivar e se preparar para uma grande satisfação do primata, afirma o Dr. A.K. Pradeep, em seu livro, “O Cérebro Consumista.” Na realidade, o que estava ocorrendo era uma experiência típica do “Macaco vê, macaco faz”. Embora o símio não estivesse esboçando nenhum movimento físico alusivo à ação do assistente de laboratório, o seu cérebro, especificamente os seus neurônios-espelho , estava se deleitando deste raro momento de pura gula primata.
O Dr. Giancomo Rizzolatti, responsável pelo experimento em cérebros de  macacos da Universidade de Parma, realizou outras pesquisas relacionadas, usando amendoins. Quando um macaco observava outro macaco ou um ser humano comendo amendoim, seus neurônios reagiam de tal forma, parecendo que os mesmos estivessem realmente descascando e comendo amendoim. Em todas as situações experimentais, os neurônios do córtex pré-frontal dos macacos Rhesus reagiam da mesma forma.

Em 1994, Rizzolati publicou sua primeira pesquisa sobre a descoberta recente dos neurônios-espelho.



Nota: Este artigo foi escrito por Carlos Luppus, com algumas adaptações do livro, o O Cérebro Consumista, do Dr. A. K. Pradeep.

domingo, 18 de setembro de 2016

EDUCAÇÃO: ENSINO E APRENDIZAGEM


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                    Jorge Bucay, médico e psicólogo argentino, em seu livro QUANDO ME CONHECI, afirma que uma parte importante de todo o conhecimento adquirido ao longo da vida é transmitida dos pais para os filhos.
                    Poderemos chamar esta “educação de formal,” que é transmitida por meio de ordens, conselhos, prêmios e castigos. A educação “não formal” é transmitida pelo que não é dito fundamental, porque as crianças têm uma tendência natural de imitar o que vem, principalmente, os exemplos dados pelos adultos.
                    Existe uma outra forma de ensino que se transmite de geração para geração, incluindo o que está contido em nosso material genético. Atualmente, os estudiosos do comportamento humano reconhecem que existe um verdadeiro manancial de informações que já fazem parte do nosso DNA, que colabora de forma incisiva, juntamente com as influências emanadas de nossa sociedade, na montagem de nossas estruturas morais, éticas e sociais.
                    Da mesma forma, os nossos filhos terão a tarefa de levar o nosso legado além de onde nossas limitações o deixaram. E seus futuros filhos terão o compromisso de levar todos estes conhecimentos para gerações seguintes.
                    Em um mundo expressamente competitivo, em que as mudanças são vertiginosas, todo este aprendizado transmitido às novas gerações, cria uma condição singular de sobrevivência e perpetuação da espécie humana.
                    Nós fomos criados segundo a velha metáfora que dizia que educar não era dar o peixe, e sim ensinar a pescar. Hoje, em dia este pensamento continua a vigorar como se estivesse realmente adaptado aos novos tempos. Mas, na realidade, não está.
                    Se, por exemplo, hoje eu der uma vara de pescar ao meu filho e o ensino a pescar, provavelmente, em sua fase jovem, os meus ensinamentos relacionados ao assunto serão suficientes para que ele possa até sobreviver com a arte da pesca.
                    No entanto, em sua fase adulta, pode ser que não haja mais peixes para pescar, talvez, a forma ensinada não seja mais adequada à captura dos mesmos.
                    Logo, penso que a tarefa dos pais, neste momento, é ensinar os filhos a criar e construir suas próprias ferramentas: fabricar sua própria vara, tecer sua própria rede, inventar suas modalidades de pesca. Com isso, é necessário admitir com bastante humildade que ensiná-lo a pescar não será suficiente para enfrentar os novos desafios de um mundo em transição.
                    Esta dificuldade dos pais em treinar os seus filhos para os problemas que enfrentarão no século XXI está ficando cada vez mais evidente em função do tempo em que o conhecimento humano se duplica. A diminuição progressiva do tempo de duplicação, que atualmente é de cerca de 20 anos, é uma das causas das crises existenciais entre pais e filhos.

                    Logo, por mais que os tempos sejam de mudanças, não poderemos deixar de passar aos nossos descendentes, um legado moral e ético em que o respeito e a honestidade sejam marcos fundamentais na construção de uma nova sociedade.

Nota: Este artigo foi escrito por Carlos Luppus com adaptações do livro: Quando me conheci, de Jorge Buckay.

A Tentação de ULISSES


                    



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                    Stephen Bertman em seu livro OS OITO PILARES DA SABEDORIA GREGA, narra a história de que voltando para casa depois do fim do combate, Ulisses naufragou na ilha da deusa Calipso. Lá, os dois se apaixonaram. Tropical e luxuriante, a ilha era lugar remoto, um verdadeiro paraíso onde ninguém mais vivia.
                    Calipso sabia que Ulisses, por ser mortal, algum dia iria morrer e que ela ficaria sozinha novamente. Por isso, a bela deusa lhe deu a chance de conquistar a vida eterna, oferecendo-lhe néctar e ambrosia, os alimentos dos deuses. Se aceitasse a oferenda, Ulisses estaria livre da morte e viveria para sempre, desfrutando os prazeres dos sentidos ao lado dela.
                    Semanas depois de sua proposta, no entanto, ela o encontrou chorando na praia, o olhar perdido no horizonte, tentando avistar o lar de onde partira fazia 20 anos. Não era exatamente por sua casa que chorava, nem por saudade da mulher, nem pelo filho que deixara ainda criança e que se tornara adulto durante os longos anos que Ulisses passara na guerra e no mar. Chorava por saber que precisavam dele para corrigir os erros que tinha afetado o seu reino nos anos em que estivera fora. Somente se voltasse poderia se tornar outra vez marido, pai e rei, agindo como só ele poderia agir, ocupando o vazio que deixara ao partir.
                    Ulisses recusou a oferta de Calipso de se tornar um deus e escapar da morte, pois escolher viver ali significaria desistir da vida. Naquela ilha paradisíaca, onde tudo seria previsível e seguro, disponível e gratuito, uma coisa estaria faltando: um futuro no qual ele pudesse se atirar de corpo e alma.
                    Os gregos acreditavam que, durante a vida, o objetivo dos homens é terminar uma tarefa incompleta, e que é essa missão – mesmo que vagamente percebida – que atribui o significado à nossa existência, qualquer que seja o perigo.
                    Calipso ofereceu a Ulisses tudo o que ele era, mas lhe negou tudo o que ele poderia vir a ser. Naquela ilha exuberante porém deserta, um deus poderia viver, mas não um homem. Não por acaso a deusa se chamava Calipso, nome que significa “aquela que esconde “, pois, se seu amado decidisse ficar e viver com ela para sempre, teria ficado escondido – dos outros mas também de si mesmo, daquele que poderia vir a ser.
                    No fim, não foi em busca de seu lar que ele partiu, carregado pelas ondas numa jangada, mas daquilo que poderia ser tornar. Observando-o se afastar pouco a pouco, remando lentamente, até Calipso entendeu a escolha que Ulisses fez.


Nota: Este artigo foi escrito por Carlos Luppus com adaptações do livro: Os Oito Pilares da Sabedoria Grega, de Stephan Bertman

O DISCÓBOLO

O DISCÓBOLO. C:\Users\CA\Pictures\DISCÓBOLO Míron Julho 2011.jpg
Míron, escultor do século V a.C., criou uma estátua representando um discóbolo perfeitamente equilibrado no instante exato que precede o lançamento do disco. Na estátua, a pose do atleta, com os braços e as costas arqueadas, encarna ao mesmo tempo a curvatura do disco e a trajetória de seu voo, prestes a ocorrer. Ao criar a sua obra-prima, Míron quis retratar não um discóbolo em especial, mas o arremessador ideal, uma personificação consumada da excelência física e da sua busca. Tal excelência, porém, não era automática. Para atingi-la, era indispensável ter autodisciplina e determinação. Portanto, só com treinamento e concentração o atleta poderia alcançar sua meta. Por esses meios, seu potencial seria liberado e se tornaria real para que todos vissem. Embora fosse irrelevante do ponto de vista militar, o arremesso de disco fazia parte do Jogos Olímpicos porque demonstrava , de uma forma mais pura do que qualquer atividade competitiva, o fascínio da alma grega pela perfeição.
Nota: Este texto foi escrito por Carlos Luppus.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

SER OU TER? EIS A QUESTÃO.



By Carlos Luppus

               Provavelmente, este dilema acompanha o homem desde os primórdios da civilização humana. Este tema, ser ou ter, é tão atual, que o estamos vivenciando neste momento no chamado mundo globalizado.
               No Brasil em especial, e no mundo de uma forma geral, vivemos uma crise econômica sem precedentes em nossa história recente. Esta crise de certa forma está relacionada ao modelo econômico em que estamos inseridos, baseado no contínuo crescimento de produção e consumo.
               A palavra “crise”, em grego, significa “decisão”, “julgamento”, o que nos remete à uma reflexão de que o momento é de convergência de pensamentos, em que se busque de forma rápida, uma saída para este impasse social e econômico ao qual estamos mergulhados. Se faz necessário tomar uma decisão, mesmo que o remédio seja amargo, porém de fundamental importância para se debelar a “doença”. A saída de forma permanente para esta crise dependerá certamente da vontade política de nossos governantes, que devem atuar na mudança das regras da gestão pública,  do mercado financeiro e dos hábitos de consumo da população.
               Desde a Revolução Industrial, principalmente dos anos 1960, desenvolvemos uma civilização que se fundamenta no viés mercadológico,  de que progresso é possuir mais. Os profissionais de publicidade através de técnicas cada vez mais sofisticadas de marketing, principalmente neuromarketing, nos mais diversos meios de comunicação, tentam nos adestrar que a felicidade é uma conquista de posse, de propriedade. É necessário que se adquiram  novos produtos e se  contratem novas formas de serviço. Comprar novos bens: carros, apartamentos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, roupas de grife; participar de uma vida social intensa com bons restaurantes e bons shoppings e fazer uso de serviços de turismo, como viagens em carros, aviões e navios, traslados para hotéis e parques de diversões; demonstram de forma inequívoca, que o modelo implantado pelo capitalismo ocidental é motivo de cobiça por uma parte significativa da população que faz da posse, da acumulação e da troca permanente de bens materiais, o sentido último da existência humana. No entanto, percebe-se  de forma clara e inquestionável que este  modelo de consumo desenfreado engasgou. Não temos mais uma economia que possa gerar riqueza de forma contínua, em que as pessoas estejam continuamente ocupadas em postos de trabalho com salários compatíveis com os seus gastos pessoais e familiares. Além disso, o planeta não é um reservatório indefinido de recursos naturais a começar pela água e pelo solo.
               Diante deste contexto, acredito que esta crise possa ter um impacto positivo diante da consciência humana, que é em última instância, a preservação da espécie como um todo.
               Acredito que esta crise não é somente econômica e social, mas também filosófica e espiritual. E aí eu pergunto: o que faz o homem feliz? O que realmente pode trazer ao homem o sentido da plenitude existencial? Segundo o filósofo Martin Heidegger, “a angústia é a sensação do nada”. Este vazio existencial que acompanha a espécie humana desde o aparecimento dos primeiros hominídeos, é a mesma que o atormenta nos dias atuais. Durante a sua curta caminhada por este planeta, o homem, embora detentor da mais alta tecnologia desenvolvida até agora por uma espécie animal, não consegue responder algumas das indagações mais emblemáticas de sua existência. De onde viemos? O que estamos fazendo aqui? E para onde iremos?
               As tradições religiosas tentaram fornecer instrumentos que pudessem responder a essas perguntas fundamentais. Não entanto, não prosperaram. Algumas porque se fecharam em posturas teológicas e morais extremamente rígidas, nem sempre se comprometendo com modelos de virtude e respeito que  apregoavam, outras por defenderem ideologias totalmente destoantes da fé em um Deus justo e amoroso, pregando a violência e a morte como forma inquisitória medieval de impor a sua verdade com única, suprema, divina.
               Por mais que o homem estude e desenvolva mais ciência e novas tecnologias, existem algumas indagações que o acompanham de forma diuturna durante a sua existência.
O ser humano pode ser feliz e viver em harmonia com os seus pares diante de uma sociedade inteiramente construída em torno do ideal do “eu”?
               Acredito que não. Ao observar os ensinamentos atribuídos a Buda, Sócrates e Jesus, os mesmos consideram que a verdadeira felicidade humana estará na razão direta do despojar do direito de posse.
                Para começar, entendo que o desejo contumaz é algo pernicioso à existência humana. Normalmente, o homem passa a sua  existência focado na busca de tudo aquilo que lhe possa trazer prazer, satisfação, sentimento de pertencimento. Nesta busca, ele se preocupa apenas com a acumulação de bens materiais, riqueza, poder e soberba sobre os personagens comuns da sociedade.
                O desejo de posse é algo que atinge o homem em regiões profundas do seu cérebro primitivo.  Os primeiros hominídeos em suas cavernas enfrentavam desafios gigantescos diante da sua impotência perante às forças indomáveis da natureza. De forma concomitante, buscavam os meios necessários à sua sobrevivência, como água e alimentos e, tentavam se proteger das condições nefastas impostas pelos fatores climáticos da época. Em função desta realidade, o homem começou a desenvolver a ideia de acumular... água, alimentos, utensílios diversos, instrumentos de caça e de defesa e,  de todas a formas de bens que pudessem lhe garantir a sobrevivência por mais dias, já que naquela época era pouco provável que o mesmo passasse da juventude.
                A busca pela posse é, por natureza, insaciável, que pode despertar frustração e violência. Este sentimento humano pode levar o indivíduo a desejar o que não tem, mesmo que tenha que usar de meios arbitrários e violentos para consegui-lo.
               Defendo a tese de que a vida humana deve ser contemplada em suas necessidades básicas, em que nós devemos ter os nossos desejos  mínimos saciados como alimentar-se, vestir-se, ter um abrigo seguro para acomodarmos a nossa família e um emprego digno e justo para vivermos decentemente com o salário recebido. É importante ressaltar que esta vida simples que eu preconizo deve ser acompanhada da presença viva e duradoura do Estado em que preze à satisfação dos serviços básicos de saúde, educação, saneamento, segurança e, politica econômica de preços e salários compatíveis com as faixas mais pobres da população. O homem precisa abandonar de forma gradual e contínua, o sentimento forte, dominante e ancestral aos seus tempos de caverna, em que a ideia preponderante era de acumular bens.
               Reitero a tese de que a aproximação do homem ao seu meio natural (Homo naturae), respirando um ar mais limpo, usufruindo de um silêncio mais qualitativo que possa lhe proporcionar condições melhores  de sono e paz interior, tendo um contato mais próximo com os agentes da natureza, como a flora e a fauna e usufruindo de uma vida mais simples; acredito eu, que estes fatos poderão conscientizá-lo de que, talvez, a sua felicidade esteja mais em “ser” do que de “ter”.
                Ao usufruir de uma vida mais simples, o homem poderá ter tempo para se conhecer melhor, conhecer aqueles que o cercam, conhecer o meio ambiente em que está inserido, admirar de forma mais contemplativa às inúmeras formas de vida que a todo o momento nos surpreende com sua vitalidade e sagacidade diante de seus predadores naturais. Dessa forma, penso eu, o homem poderá aprender a conviver melhor consigo mesmo, poderá se autodescobrir, poderá fazer a viagem ao seu interior, poderá atingir às suas entranhas existenciais, poderá domesticar os seus “diabinhos”, poderá entender que a felicidade humana não é um momento, pelo contrário, é algo a se atingir, é uma meta, ela está no horizonte.
                Acredito que o filósofo grego Sócrates, que viveu aproximadamente a 470 anos antes de Cristo, chegou a mesma  conclusão elencada acima, ao proferir uma frase que lhe é atribuída: “Conhece-te a ti mesmo” . Com o amadurecimento deste pensamento, o homem será capaz de aprender a se conhecer melhor, aprender a se controlar, aprender a respeitar o mundo que o cerca, sobretudo, à sociedade ao qual faz parte. Deve descobrir como amar, como viver em parceria com os outros, como administras as suas frustrações, as suas angústias; como conquistar a serenidade, como superar os sofrimentos cotidianos da vida; como também, preparar-se para o final da viagem humana com dignidade, sabedoria e sensação de missão cumprida. Porque viver é um fato concreto e inquestionável, saber viver é uma arte. Uma arte que devemos aprender com os mestres da sabedoria, como por exemplo: Buda, Sócrates e Jesus, procurando nos aperfeiçoar no sentido de sermos um ser humano cada vez melhor e digno da criação de Deus.


Nota: Este artigo foi escrito por Carlos Luppus com adaptações retiradas do livro Sócrates, Jesus e Buda, de Frédéric Lenoir.